Desde quando a violência dói menos que ficar sozinha?
Vivemos em uma sociedade que, apesar de avanços legais e campanhas públicas, ainda prefere normalizar a violência doméstica a encarar o desconforto da solidão ou o julgamento social. A mulher que denuncia é vista como “fracassada”, “destruidora de família”, “exagerada”. Já a que permanece em silêncio é tida como “forte”, “resiliente”, “discreta”. Essa inversão de valores revela um sistema que valoriza aparências mais do que vidas. A dor invisível: por que o silêncio parece mais aceitável? A solidão, especialmente para mulheres, é socialmente penalizada. Desde cedo, somos ensinadas que estar acompanhada — mesmo que por alguém abusivo — é melhor do que ser vista como “sozinha”. A violência, nesse contexto, é relativizada. Frases como “ele só grita”, “mas nunca bateu”, “é o jeito dele” são comuns. A dor física e emocional é silenciada em nome da estabilidade aparente. Mas a violência não dói menos que a solidão. Ela apenas se torna mais silenciosa, mais escondida, mais difícil de nomear. ...