Desde quando a violência dói menos que ficar sozinha?

Vivemos em uma sociedade que, apesar de avanços legais e campanhas públicas, ainda prefere normalizar a violência doméstica a encarar o desconforto da solidão ou o julgamento social. A mulher que denuncia é vista como “fracassada”, “destruidora de família”, “exagerada”. Já a que permanece em silêncio é tida como “forte”, “resiliente”, “discreta”. Essa inversão de valores revela um sistema que valoriza aparências mais do que vidas.

A dor invisível: por que o silêncio parece mais aceitável?

A solidão, especialmente para mulheres, é socialmente penalizada. Desde cedo, somos ensinadas que estar acompanhada — mesmo que por alguém abusivo — é melhor do que ser vista como “sozinha”. A violência, nesse contexto, é relativizada. Frases como “ele só grita”, “mas nunca bateu”, “é o jeito dele” são comuns. A dor física e emocional é silenciada em nome da estabilidade aparente. Mas a violência não dói menos que a solidão. Ela apenas se torna mais silenciosa, mais escondida, mais difícil de nomear. E quanto mais silenciosa, mais perigosa

⚖️ Por que as leis não funcionam como deveriam?

O Brasil possui leis robustas, como a Lei Maria da Penha, que prevê medidas protetivas, afastamento do agressor e punições. No entanto, a eficácia dessas leis depende da cultura que as cerca. E a cultura ainda é de silêncio, de medo, de julgamento.

• Muitas mulheres não denunciam por falta de apoio emocional e financeiro.

• Delegacias especializadas são poucas e mal estruturadas.

• A sociedade ainda culpabiliza a vítima, questionando suas escolhas, sua roupa, sua reação.

A lei existe, mas não é suficiente quando o entorno social reforça a permanência no ciclo de violência.

👶 E as crianças? Por que seus direitos são ignorados?

A Constituição Brasileira afirma que crianças devem ser prioridade absoluta. Mas na prática, essa prioridade é frequentemente ignorada para manter a “família unida”. Mesmo quando há violência, muitos acreditam que é melhor a criança ter o pai ou a mãe por perto — ainda que esse adulto seja o agressor.

Esse pensamento ignora o fato de que:

• Crianças que presenciam violência doméstica não estão seguras emocionalmente.

• Elas desenvolvem traumas, ansiedade, depressão e padrões de relacionamento abusivos.

• O vínculo com o agressor não é mais importante que a saúde mental da criança.

Manter a criança perto de quem a machuca — direta ou indiretamente — não é cuidado. É negligência institucionalizada.

🧠 O papel da terapia e da denúncia

A saída do ciclo de violência exige coragem, mas também rede de apoio e acompanhamento psicológico. A terapia ajuda a:

• Reconstruir a autoestima.

• Identificar padrões abusivos.

• Fortalecer a autonomia emocional.

Denunciar é um passo necessário, mas não deve ser solitário. É preciso que a sociedade — vizinhos, familiares, profissionais — acolha, escute e proteja.

📢 Conclusão: romper o ciclo é um ato de amor

A violência doméstica não é uma escolha. É uma prisão emocional, social e muitas vezes institucional. Romper com ela é um ato de amor próprio — e de amor pelos filhos. A sociedade precisa parar de romantizar o sofrimento e começar a valorizar o respeito, a segurança e a saúde emocional.

Porque desde quando a violência dói menos que ficar sozinha?

Desde nunca.

E quanto mais cedo reconhecermos isso, mais vidas serão salvas.

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