Amor e Carinho: A Evolução Afetiva nos Relacionamentos Saudáveis

Por Cleonice F Andrade
O amor é uma das experiências humanas mais complexas e transformadoras. Na prática clínica da terapia cognitiva, observamos que o amor não é apenas uma emoção — é um processo psicológico que evolui, se adapta e se aprofunda ao longo do tempo. Relacionamentos saudáveis são marcados por essa evolução: da paixão intensa à intimidade compassiva, sustentada por carinho, confiança e comprometimento.
🔥 Da Paixão ao Amor Compassivo
No início de um relacionamento, é comum que os parceiros vivenciem o chamado amor apaixonado — uma combinação de desejo intenso, idealização do outro e necessidade de proximidade física. Esse estágio é impulsionado por esquemas de recompensa e expectativa, onde o parceiro é visto como fonte de prazer, validação e novidade. Com o tempo, essa intensidade tende a se estabilizar. Isso não significa que o amor diminui, mas que ele se transforma. O amor compassivo emerge como uma forma mais profunda e duradoura de conexão, marcada por:
• Afeição constante: gestos de carinho que não dependem de excitação.
• Confiança mútua: segurança emocional construída pela consistência.
• Intimidade emocional: abertura para vulnerabilidades e histórias pessoais.
• Comprometimento consciente: escolha ativa de permanecer e crescer juntos.
Essa transição é natural e saudável. Casais que compreendem essa dinâmica conseguem cultivar vínculos mais resilientes e significativos.
🧠 Esquemas Cognitivos e a Manutenção do Carinho
A forma como o amor e o carinho se manifestam está diretamente ligada aos esquemas cognitivos de cada indivíduo. Por exemplo:
• Esquema de merecimento: “Sou digno de amor” → promove abertura e receptividade.
• Esquema de desvalorização: “Não sou bom o suficiente” → pode gerar sabotagem afetiva.
• Esquema de abandono: “O amor sempre acaba” → leva à ansiedade e controle excessivo.
Na terapia, ajudamos os pacientes a identificar e reestruturar esses esquemas para que possam vivenciar o amor de forma mais segura e autêntica.
💞 O Papel do Carinho na Sustentação do Vínculo
Carinho é a linguagem silenciosa do amor. Ele se expressa em gestos simples — um toque, uma palavra gentil, um olhar atento. Esses gestos reforçam a conexão emocional e funcionam como microvalidações que alimentam o vínculo. Casais que mantêm o carinho ao longo do tempo demonstram:
• Empatia ativa: colocar-se no lugar do outro.
• Gratidão cotidiana: reconhecer e valorizar os pequenos gestos.
• Apoio emocional: estar presente nos momentos difíceis.
• Interesse genuíno: manter a curiosidade sobre o parceiro.
Essas práticas não exigem esforço monumental, mas sim intenção contínua.
Intervenções Terapêuticas para Fortalecer o Amor
Na terapia cognitiva, trabalhamos com casais para fortalecer o amor e o carinho por meio de:
• Diálogo socrático: explorar crenças limitantes sobre o amor.
• Exercícios de validação: praticar elogios e reconhecimento mútuo.
• Planejamento de momentos de conexão: criar espaços para intimidade emocional.
• Reestruturação de expectativas: compreender que o amor muda, mas não desaparece.
💬 Conclusão
O amor não é um estado fixo — é uma construção emocional que se transforma com o tempo. A paixão inicial pode diminuir, mas o carinho, a confiança e a intimidade podem crescer indefinidamente. Relacionamentos saudáveis não dependem da intensidade constante, mas da profundidade construída com paciência, respeito e afeto.
Se você sente que o amor perdeu o brilho inicial, talvez seja hora de perguntar: estamos cultivando o carinho que sustenta o vínculo ou apenas lamentando a paixão que passou?
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